Os primeiros brasões, como vimos, eram a decoração própria dos escudos dos cavaleiros, pintados com as suas cores e peças distintivas. Daí ser natural que a forma do escudo heráldico tenha acompanhado, de algum modo, a evolução dos escudos enquanto peças de defesa.
Por outro lado, verificaram-se particularismos geográficos, a nível do desenho heráldico propriamente dito, que levaram a associar determinados formatos de brasão apenas a algum ou alguns países. Assim, o escudo dito "de cabeça de cavalo" é praticamente exclusivo de Itália, o escudo "de pontas" é típico da Grã-Bretanha, os escudos alemães quase sempre são do tipo "de torneio"...
Isto permite, por um lado, identificar (com as devidas reservas) a origem de um brasão a partir da forma do escudo; mas, principalmente, o conhecimento da evolução da forma do escudo ao longo do tempo possibilita a sua datação dentro de limites mais ou menos amplos e, por extensão, datar aproximadamente os objectos ou monumentos onde esses brasões se encontram. A Heráldica assume, assim, uma importância indiscutível como ciência auxiliar da História, e particularmente da História da Arte. Um exemplo do rigor com que a evolução de um brasão permite estabelecer limites temporais pode ser visto na Heráldica Real, a propósito da evolução das Armas de Portugal.
Os primeiros brasões que se conhecem têm a forma do chamado "escudo normando", ou amendoado, corrente no século XII, época em que normalmente se situa o nascimento da heráldica. Não se conhecem escudos portugueses desta época (aliás, são lamentavelmente raros os exemplares de armaria portuguesa antiga que chegaram aos nossos dias), mas os escudetes representados em moedas da 1ª dinastia, nomeadamente nos morabitinos, indiciam que o escudo normando devia ser igualmente vulgar em Portugal, e que os nossos primeiros brasões deveriam ter assumido essa forma. Veja-se, a título de exemplo, um morabitino de D. Sancho I e alguns escudos europeus com decoração heráldica. -----------------imagens----------------------
Mas rapidamente o escudo heráldico assumiu um formato mais apropriado à representação de figuras e à junção de vários brasões no mesmo escudo, fruto de alianças familiares, como veremos ao falar das partições do escudo. Tornou-se, então, menos alongado e mais rectangular, ainda que com a ponta mais ou menos em bico: surgem assim, aproximadamente na mesma época, o escudo gótico, o escudo peninsular e o escudo francês. -----------------imagens----------------------
Destes, o escudo peninsular foi (como o próprio nome indica) o mais utilizado na Península Ibérica, desde muito cedo, de tal forma que ainda hoje é considerado o escudo típico de Portugal e de Espanha. Por esta razão, foi esta a forma adoptada na execução de todos os brasões desenhados expressamente para este site (embora, pessoalmente, prefira o escudo gótico, por razões puramente estéticas).
O escudo mais utilizado no período manuelino foi uma variante do escudo francês, frequentemente com o chefe também em bico. -----------------imagens----------------------
No século XVI, contudo, a fantasia dos desenhadores heráldicos levou a uma muito maior diversidade no formato do escudo, muitas vezes baseado nos escudos de torneio de inspiração germânica. -----------------imagens----------------------
O século XVII conhece um retorno a formas mais tradicionais do escudo, nomeadamente o escudo peninsular, reservando-se a fantasia para os ornatos exteriores do escudo; é frequente nesta época a existência de cartelas recortadas e outros elementos de natureza não heráldica nos desenhos de brasões. -----------------imagens----------------------
Aparecem também, por vezes, escudos circulares ou ovais, mais ou menos correctos, embora sejam sempre casos raros. -----------------imagens----------------------
O período Barroco trouxe para a heráldica as formas mais arrebicadas e estranhas de brasões, tornando muitas vezes extremamente difícil o desenho das peças no interior do escudo. Acompanhando as linhas da arquitectura da época, os escudos barrocos apresentam curvas e contra-curvas sinuosas, simétricas ou não, e frequentemente associam elementos não heráldicos (como conchas e volutas) ao brasão, como elementos exteriores ao escudo. Não há dúvida que os brasões barrocos constituem alguns dos exemplares mais impressionantes do ponto de vista decorativo; mas a boa heráldica encontra-se muito mais nos brasões medievais. -----------------imagens----------------------
Como acontece sempre na História da Arte, os exageros do Barroco conduziram a uma reacção de sobriedade e contenção quase geométrica, e o escudo típico do século XIX é o escudo francês, quase perfeitamente rectangular, e que, de facto, é o mais apropriado para brasões com um grande número de partições (como era frequente na época, em que os armigerados procuravam juntar no mesmo brasão o maior número possível de armas de família, fruto de sucessivas alianças através dos séculos). -----------------imagens----------------------
No início do século XX houve em Portugal um revivalismo do escudo barroco, devido, porventura, à adopção por D. Manuel II deste formato para as Armas Reais. -----------------imagens----------------------
O Estado Novo favoreceu de algum modo o escudo gótico, em linha com a glorificação dos Descobrimentos e da figura do Infante D. Henrique que faziam parte do ideário do regime. -----------------imagens----------------------
Actualmente, a tendência geral é para a sobriedade, e praticamente apenas se vêem escudos peninsulares e franceses. Mas a forma do escudo é muito vulnerável às flutuações do gosto e da moda... -----------------SEPARADOR----------------------
Há ainda dois casos especiais a assinalar:
- a lisonja, formato do escudo próprio das senhoras, e que tem a particularidade de dever (em princípio) ser sempre partido, apresentando à esquerda as armas de família (do pai) da armigerada, e à direita as armas do marido. As mulheres solteiras devem usar a partição dextra de prata, plena.
- o escudo oval, reservado à Heráldica Eclesiástica (embora com frequentíssimas excepções...).
Recapitulando, e para finalizar, podemos enumerar assim a evolução geral da forma do escudo heráldico:
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