As cores do brasão designam-se genericamente esmaltes e a sua representação obedece a determinadas regras e convenções. Dividem-se tradicionalmente em Metais (Ouro e Prata), Cores (Vermelho, Azul, Verde, Negro e Púrpura) e Peles (Arminhos e Veiros).
Alguns autores referem ainda um esmalte específico, a Carnação, cor natural da pele humana.
O ouro e a prata podem ser representados como metais, com os reflexos próprios, ou pelas cores amarela e branca, respectivamente.
Compete ao artista que ilumina o brasão decidir sobre o tom específico de cada esmalte e as sombras e outros efeitos a aplicar ao desenho, dentro das regras do desenho heráldico.
Como regra essencial, não se devem sobrepor metais a metais nem cores a cores (por exemplo, não é de boa heráldica um brasão com uma cruz de prata sobre campo de ouro, ou com uma cruz de vermelho sobre campo de azul). A isto se chama a Lei Fundamental da Heráldica.
Justifica-se tradicionalmente esta regra com uma explicação técnica: quando se pintava um escudo, não se empregavam tintas sobre tintas, para não correr o risco de misturas ou esborratamentos. Outra explicação refere a necessidade de distinguir com rapidez os combatentes numa batalha ou torneio, o que impunha a utilização de cores fortes e contrastadas.
As peles podem ser sobrepostas tanto a metais como a cores.
Quando é inevitável a representação de metais ou cores sobrepostas, deve brasonar-se referindo que tais esmaltes estão cosidos. Por exemplo, dir-se-ia de vermelho, com uma cruz cosida de azul.
Outra alternativa será perfilar as peças de uma cor ou metal que permita respeitar a Lei Fundamental da Heráldica. Assim, é correcto brasonar de ouro, com uma torre de prata, perfilada de negro. Não é boa heráldica, mas aceita-se... Acontecem muitos casos destes em brasões dos séculos XVIII e XIX, um período em que a Heráldica estava manifestamente em decadência.
Esta regra não se aplica, evidentemente, no caso de duas cores ou metais justapostos em partições do escudo; é perfeitamente correcto brasonar um escudo partido de ouro e prata, sem necessidade de estes metais serem cosidos. Outra excepção à regra verifica-se quando uma peça cobre simultaneamente um metal e uma cor do campo, como, por exemplo, no caso de uma cruz de azul sobre um campo partido de ouro e vermelho. Também não se aplica em relação aos pormenores de uma figura, como, por exemplo, a língua e garras de um leão.
Alguns autores antigos consideravam o negro uma pele, pelo que seria legítimo sobrepô-la a qualquer cor ou metal. Hoje, contudo, prefere referir-se, em tal caso, que se trata de peças cosidas (por exemplo, de vermelho, com três merletas cosidas de negro). Do mesmo modo, era reconhecida à púrpura o privilégio de poder sobrepor-se a qualquer cor sem quebra das leis da heráldica.
Os arminhos são a primeira das peles heráldicas e simbolizam as capas feitas de peles destes pequenos animais, de pelagem branca, tendo a espaços regulares a mancha negra das patas e caudas, representadas por uma peça estilizada, denominada mosqueta, que por vezes surge isolada ou individualizada. Normalmente, os arminhos são formados por um fundo de prata semeado de mosquetas de negro; quando assim não for, deverá indicar-se o esmalte do fundo e das mosquetas, bem como o número e posição destas.
Assim, poderemos ter, por exemplo, estes três casos:
Os contra-arminhos são a inversão dos esmaltes dos arminhos, ou seja, fundo de negro semeado de mosquetas de prata.
Os veiros, a segunda das peles heráldicas, são uma representação ainda mais estilizada de mantos de pele de pequenos roedores, particularmente esquilos da Sibéria, de pelagem azulada nas costas e branca no ventre, o que originou o particular desenho dos veiros, constituído por tiras horizontais compostas por pequenos pontos ou peças de azul, com uma forma semelhante a uma campânula, e que alternam com pontos idênticos, mas de prata e invertidos. Os pontos de cor têm a base para baixo, enquanto os pontos de metal têm a base para cima.
O campo de veiros pleno é normalmente formado por cinco tiras horizontais, das quais a 1ª, a 3ª e a 5ª têm cinco pontos de azul, e a 2ª e a 4ª quatro pontos de azul e dois meios pontos nas extremidades.
Quando os pontos são de outros esmaltes que não azul e prata, o campo diz-se veirado e é necessário referir os seus esmaltes (por exemplo, veirado de ouro e vermelho). Note-se que o veirado deverá ser sempre de um metal e uma cor, não podendo ser formado por dois metais nem por duas cores.
Quando as peças estão colocadas costas com costas, de tal forma que se unem cor com cor e metal com metal pelas suas bases, diz-se que se trata de contra-veiros.
As figuras do mundo natural, quando não sejam peças propriamente heráldicas representadas de um só esmalte, são apresentadas com as suas cores naturais e dizem-se de sua cor. Assim, teremos, por exemplo: de ouro, com um urso rampante de sua cor. É conveniente, no entanto, ter alguns cuidados ao brasonar desta forma: como representar, por exemplo, uma sereia "de sua cor"? Será mais seguro brasonar uma sereia, a metade humana de carnação, a metade peixe de prata...
As peças de sua cor podem sobrepor-se a metais, cores ou peles. Daí que as árvores ou plantas, quando de verde, possam existir em campo de qualquer cor sem indicação de serem cosidas.
Noutros países, a tradição heráldica admite ainda outras cores ou esmaltes para além daqueles que indicamos, como o pardo na heráldica inglesa, o cinzento na heráldica alemã (representando um metal, o ferro) ou o alaranjado. Não incluimos nesta relação tais esmaltes, de resto extremamente raros, por não existirem na heráldica portuguesa.
Representação Gráfica
A identificação perfeita de um brasão só é possível através da utilização das cores. Este facto desde sempre colocou problemas delicados quando se pretende representar um brasão em lacre ou obreia, para selar documentos, ou em pedra, em túmulos ou fachadas de edifícios. Ainda hoje, muitos dos problemas de identificação de alguns brasões representados neste tipo de suportes deriva do desconhecimento dos seus esmaltes.
Veja-se, por exemplo, o caso de seguinte selo do século XIV, em cera vermelha:
Embora seja evidente tratar-se de um escudo com três palas, o desconhecimento dos seus esmaltes impede a identificação segura do brasão representado...
O mesmo problema se colocava quanto aos brasões representados tipograficamente, em gravuras ou livros, mas, neste caso, encontrou-se uma solução engenhosa: codificou-se um sistema convencional de representação dos diversos esmaltes através de pequenos pontos e linhas, sistema que rapidamente se generalizou e ainda hoje é utilizado na heráldica europeia e ocidental. Assim, por exemplo, o vermelho é representado tipograficamente por finas linhas verticais, enquanto o azul é representado por linhas horizontais. (Se quiser empregar uma mnemónica, repare que vermelho e vertical começam pelas mesmas letras…). Ao que parece, o inventor deste sistema de representação gráfica foi o Padre Pietra Santa, em 1636 (ver Le Blason, pg. 48).
Nos exemplos que se seguem, apresentamos para cada esmalte um escudo pleno do mesmo, tendo ao seu lado a respectiva representação gráfica, o nome ou nomes pelos quais se pode brasonar esse esmalte e a leitura heráldica do brasão apresentado.
Metais
Ouro
Prata
Cores
Vermelho
Azul
Verde
Negro
Púrpura
Peles
Arminhos
Contra-arminhos
Veiros
Contra-veiros