O uso de cada pessoa ser conhecida pelo nome ou nomes próprios, apelidos da mãe e apelidos do pai é relativamente recente (datará, para a maioria das famílias, de finais do século XVIII ou inícios do século XIX). Nos primórdios da nacionalidade e durante, pelo menos, toda a Idade Média, tanto em Portugal como no resto da Europa, um indivíduo era conhecido pelo seu nome próprio e pouco mais - o seu título, feudo ou terras, no caso dos nobres (o primeiro Duque de Bragança, D. Afonso, que era filho natural do rei D. João I, era conhecido apenas por "o Bragança" VER); para os restantes, poderia ser a profissão (Pedro Carpinteiro, p. ex.), o local de origem ou de morada (João de Guimarães), ou, frequentemente, uma alcunha, das quais talvez a mais interessante seja a do célebre colonizador da Madeira, João Gonçalves Zarco - dizia-se "zarco" o homem que tinha um olho de cada cor... É esta a origem dos Bravo, Valente, Guerreiro, Leal; dos Coelho, Raposo, Gato, Cordeiro e outros animais, certamente por parecenças físicas de um indivíduo com o referido bicho; mas também dos Magro, Gordo, Feio, Barriga, ou, pior, Perna Torta ou Cubaixo...

Mas a forma mais frequente de formação de apelidos na Idade Média foi a adopção do nome próprio do pai, sob a forma de patronímicos. O processo era simples: se um homem chamado Fernando tinha um filho chamado Simão, este seria conhecido por Simão Fernandes (filho de Fernando); por sua vez, um filho deste chamado Pedro (ou Pero) seria Pero Simões (filho de Simão), e o seu filho seria qualquer-coisa Peres... Mesmo o nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, usava o patronímico Henriques por ser filho do Conde D. Henrique.

Este fenómeno dos patronímicos era na época comum a toda a Europa e não só: precisamente D. Afonso Henriques era conhecido pelos mouros como "Ibn Errik", ou seja, "o filho de Henrique". Ibn ou Ben, em árabe, significa "filho" e assume nos nomes a função de patronímico, que noutras línguas é exercida por um sufixo. Nas línguas escandinavas, por exemplo, é son ou sen: temos Haraldsen (filho de Harald), Sigurdsson (filho de Sigurd) e tantos outros; em inglês, por exemplo, Richardson (filho de Richard), Robertson (filho de Robert) e muitos mais.

Em Portugal temos variadíssimos casos de apelidos com origem em patronímicos. Apresentamos seguidamente uma lista, não exaustiva:

  • Álvares ou Alves (de Álvaro)
  • Bentes (de Bento)
  • Bernardes (de Bernardo)
  • Domingues (de Domingo)
  • Eanes ou Joanes (de João)
  • Esteves (de Estêvão)
  • Fernandes (de Fernando ou Fernão)
  • Gomes (de Gomes, nome próprio hoje em desuso)
  • Gonçalves (de Gonçalo)
  • Guedes (de Gueda, nome próprio hoje em desuso)
  • Henriques (de Henrique)
  • Martins (de Martim)
  • Mendes (de Mendo ou Mem)
  • Nunes (de Nuno)
  • Pais (de Paio)
  • Peres (de Pedro ou Pero)
  • Rodrigues (de Rodrigo)
  • Simões (de Simão)
  • Soares (de Soeiro)
  • Teles (de Telo ou Telmo)
  • Vasques (de Vasco)

Finalmente, há que referir uma outra fonte de apelidos, assumidos ou escolhidos em condições particulares: a conversão forçada de judeus, particularmente nos reinados de D. Manuel I e D. João III. Estes cristãos-novos, de uma forma geral, adoptaram (se é que não lhe foram impostos...) apelidos com conotações religiosas, talvez para aparentarem uma fé cristã que certamente não possuíam com sinceridade: Santos, Espírito Santo, Trindade, Baptista, Santa Maria, Salvé-Rainha... Outros, que não quiseram - ou não acharam necessário - esconder-se atrás de apelidos tão obviamente religiosos, escolheram o apelido de entre aquilo que os rodeava, particularmente do mundo natural, e as árvores perece terem sido especialmente preferidas. Surgem assim muitos Oliveira, Carvalho, Sobreiro, Pinheiro, Nogueira...

Mas não se pense que todos os apelidos de raiz religiosa são necessariamente de origem cristã-nova: no século XIX, com a extinção das ordens religiosas, todos os frades (e algumas freiras) foram obrigados a deixar os conventos e reintegrar a vida civil, trazendo por vezes os seus nomes professos e transmitindo-os como apelidos.

Ou seja, o que deixámos escrito atrás são apenas algumas explicações gerais, sujeitas - como todas as regras - a inúmeras excepções.