O brasão dos Viscondes de Santa Margarida

e seus descendentes

A Viscondessa de Santa Margarida, D. Margarida de Assis de Freitas Belard da Fonseca (1847?-1924), já depois de viúva do 1º Visconde, o General António Joaquim Gomes da Fonseca (1833-1904), foi agraciada pelo Rei D. Carlos, por Carta de Brasão de Armas de mercê nova de 15/2/1905, com o direito ao uso de brasão, em complemento do título de visconde conferido ao seu falecido marido em 1893.

Carta de Brasão concedida à Viscondessa de Santa Margarida, D. Margarida Belard da Fonseca

Carta de Brasão concedida à Viscondessa de Santa Margarida, D. Margarida Belard da Fonseca. 1905.

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Carta de Brasão dos Viscondes de Santa Margarida

A leitura heráldica constante da Carta de Brasão é confusa e padece da falta de qualidade generalizada da heráldica oitocentista, bem patente na própria concepção do brasão de armas, que não será das mais felizes:

"Uma lisonja partida em palla: na primeira, em campo de ouro, cinco estrellas vermelhas com cauda, postas em sautor; a segunda, talhada em vermelho e azul, na parte superior, em campo de prata, três merletes pretos, e na inferior, dois liões de ouro rompentes, armados de vermelho. Sobre o escudo a corôa de Viscondessa; timbre uma estrella das armas, e por supportes dois liões de ouro."

O itálico é meu e assinala a incoerência, embora se possa compreender face à lei heráldica que manda que não se brasone cor sobre cor nem metal sobre metal, e parece, de facto, má heráldica colocar três merletas de negro, que é uma cor, sobre campo de vermelho, que é outra cor; mas, por um lado, o negro era por alguns autores antigos considerado como uma pele, podendo, assim, sobrepor-se tanto a cores como a metais, pelo que uma peça "de negro" se poderia colocar sobre qualquer campo; e, por outro, se se considerar que as merletas são de sua cor (que é, naturalmente, o preto...), já isso não deverá chocar os puristas da heráldica. Seja como for, teria sido mais correcto (e evitava todas estas confusões...) brasonar o 1º do talhado como "De vermelho, com três merletas cosidas de negro".

De resto, que o criador do brasão referiu por erro o suposto "campo de prata" do 1º do talhado depreende-se do desenho iluminado que acompanha o registo do brasão, em que o campo das merletas é claramente vermelho, embora eu apenas disponha de uma reprodução a preto e branco que publico aqui:

Brasão concedido à Viscondessa de Santa Margarida, 1905

Brasão concedido à Viscondessa de Santa Margarida. Da Carta de Brasão

A cores, o brasão dos Viscondes de Santa Margarida, a cujo uso todos os descendentes da 1ª Viscondessa têm direito, como consta da Carta de Brasão, será qualquer coisa como isto:

Brasão dos Viscondes de Santa Margarida

Brasão dos Viscondes de Santa Margarida. Desenho digital de Luís Belard da Fonseca

A Viscondessa de Santa Margarida fez esculpir o seu brasão no jazigo que mandou construir no cemitério de Beja para sepultura do seu marido:

Brasão dos Viscondes de Santa Margarida no seu Jazigo

Brasão no Jazigo dos Viscondes de Santa Margarida, 2002. Fotografia de Luís Belard da Fonseca

Note-se que este brasão contém uma incorrecção, que é apenas apresentar um dos leões, certamente por dificuldades do canteiro em fazer caber o outro num espaço algo estreito...


A "explicação" do brasão, para os curiosos da simbologia, é a seguinte:

  • As estrelas de vermelho sobre campo de ouro são as armas de família dos Fonsecas, a que se acrescentaram as caudas das estrelas como diferença heráldica;
  • As merletas, pequenos pássaros representados em heráldica sem bico e sem patas, simbolizam "inimigos mortos em combate";
  • Os leões de ouro sobre fundo de azul representam "feitos gloriosos no Ultramar".

Esta simbologia das merletas e dos leões já a li em qualquer parte, mas não consigo descobrir onde. Fica esta explicação, que vale o que vale...